Numa conversa com um repórter em 1972, Nina Simone afirma: “Quando faço um show, quero abalar de tal forma as pessoas que elas saiam do local em pedaços”.
Contando com imagens inéditas, diários e cartas, sendo boa parte do acervo cedida pela família, tendo à frente a filha, Lisa Simone Kelly. Além de entrevistas com amigos e colaboradores, o filme escapa do tom meramente celebrador e traça um denso painel de uma artista de extremos, tão genial quanto geniosa, tão amada quanto rejeitada, que lutou, radicalmente, contra o racismo no seu país e que, ironicamente, é conhecida por boa parte do público por uma música utilizada em um comercial de perfumes nos anos 1980, “My baby just cares for me”, de 1958.
Eunice Kathleen Waymon, mais conhecida como Nina Simone tocava piano desde seus 4 anos, desejava ser uma pianista clássica e mudou – se de sua cidade com o intuito de tocar em bares na cidade da Filadélfia. Adotou o nome de Nina (pequena em espanhol) Simone (homenagem á Simone Signoret, atriz francesa) aos 20 anos, pois ela tocava escondida dos seus pais, foi aí que o dono do bar pediu para que ela cantasse, do contrário iria ficar sem emprego e foi nesse momento que ela se empenhou em cantar e tocar piano para ganhar dinheiro e sustentar sua família.
Em sua carreira, interpretou canções de diversos estilos, indo do gospel ao soul, e também compôs algumas canções. Foi uma das primeiras artistas negras a ingressar na renomada Escola de Música de Juilliard, em Nova Iorque. Sua canção Mississippi Goddamn tornou-se um hino ativista da causa negra. Fala sobre o assassinato de quatro crianças negras em uma igreja de Birmingham em 1963. Nina Simone inicialmente só queria tocar para um pequeno público para ter dinheiro para sua família e continuar a estudar piano. Mas com sua voz inconfundível, conquistou muitas pessoas em seus concertos. Simone casou-se com um detetive da polícia de Nova York, Andrew Stroud, em 1961. Andrew deixou a sua carreira de detetive, se aposentou e se tornou o empresário de Nina. Foi a partir desse momento que tudo se tornou mais fácil, ela tinha dinheiro suficiente para ter uma boa casa, bons carros, uma boa situação financeira. Pouco tempo depois, ela teve sua filha Lisa Simone Kelly. Andrew então dizia que ela precisava trabalhar para conquistar mais pessoas e ter uma vida boa. Nina começou a queixar – se de estar extremamente cansada fisicamente e psicologicamente. Sofreu com agressões do seu marido, chegou a ser estuprada por ele depois de uma discussão. O documentário relata que ela chegou a ficar dias na casa de um amigo porque mal conseguia abrir os olhos depois te ter sido espancada cruelmente por seu marido. O que mais me chocou foi ela ter sofrido tanto para ter uma carreira bem sucedida.
Simone era esforçada, mesmo sofrendo com a violência não deixou o seu marido. Educou sua filha e trabalhou o dobro para que tudo fosse como ele queria. Mas e ela? Nina não tinha um tempo para ela, para se dedicar á outras coisas. Nina foi vivendo em um mundo onde não tinha mais felicidade, para as pessoas que a cercavam isso não importava, mas para ela importava sim! Ela começou a ter crises de humor, dizia que não conseguia ouvir nada em sua cabeça a não ser música, música o tempo todo. Depois de um tempo, ela fazia pronunciamentos irados “Vocês estão prontos para queimar prédios?”, pergunta durante um show, para uma plateia predominantemente negra). Ela lutava para a igualdade, ela via o sofrimento dos negros e queriam que o povo fosse tratado de forma igual, mas isso não acontecia e com isso ela começou a cantar músicas mostrando toda sua raiva contra o povo branco. Nina estava errada? Jamais. O povo negro sofreu e ela presenciou isso na morte de Martin Luther King, um dos maiores ícones negros que só queria a paz no país. Mas as gravadoras não gostavam nem um pouco do jeito de Simone nesses tempos, ela perdeu alguns contratos e isso a afetou. Cansada de tudo aquilo, ela se mudou para a África para ter uma vida tranquila, onde ela fala que estaria fugindo da prisão, chamada EUA. Ela também deixou sua aliança de casamento antes da sua partida, dizendo que Andrew seguisse a vida dele e ela seguiria a vida dela. Ficou tempos sem gravar e se mudou repentinamente para a Suíça, para tentar se reerguer sem sucesso. Mudou – se para Paris, morou em um pequeno apartamento e um de seus amigos em uma visita viu a situação em que Simone se encontrava e resolveu ajudá – la. Simone aceitou se tratar do transtorno de bipolaridade que sofria. Chegou a agredir sua filha e dizer a ela que odiava tocar piano, sendo que tocava desde seus 4 anos. Ela começou a tomar remédios para tratar a sua doença e retornou aos palcos. Nina estava de novo no mundo, não do jeito que queria, mas estava fazendo o que gostava. Sua filha diz que ela não estava feliz, mas fazia o que gostava e isso a deixava melhor. Começou a ter tiques nervosos em decorrência ao remédio, mas o piano que a deixava bem novamente. Infelizmente Nina morreu em 2003, aos 70 anos em decorrência de um câncer de mama.
O que eu tirei desse documentário?
Uma mulher que lutou pelos seus direitos, sofreu com a agressão de um homem que queria tudo para ele e pouco se importava com ela, com o que ela sentia, com o que ela precisava. Nina Simone precisava de mais amor, para conciliar seu trabalho belíssimo ao prazer da vida. Nina Simone foi uma mulher guerreira, um ícone do Jazz e se tornou uma pessoa marcante na vida de muita gente. Um documentário único e que vale a pena ser assistido, não uma vez, mas sim várias, porque precisamos de um pouco de paz no mundo e Nina só queria isso e mostrava com toda força para todos. Uma mulher corajosa que merece ser aplaudida em pé sempre.
Obrigada por esse documentário Nina Simone. <3
No Comments